domingo, 12 de junho de 2011

A mulher que virou pedra

'Como uma semente de flor a mulher foi posta no solo desse planeta por seus pais e floresceu em um jardim sujeito às forças da natureza assim como todos os jardins. Seus pais, jardineiros prestimosos, por já haverem perdido outras flores para o tempo, cuidaram da mulher com todo o zelo e dispuseram de toda proteção que existia. O jardim era lindo, cheio de pássaros e abelhas, o sol era amigo e a chuva refrescante, mas certas épocas, tudo mudava e esse foi o motivo pelo qual seus pais resolveram colocá-la em uma arredoma de vidro.

A mulher casou e teve filhos, mas um dos jardineiros morreu. A proteção que lhe era dada já não era a mesma e a mulher começou a ser exposta ao sol, ao vento e aos caprichos do tempo. A jardineira que restara, percebendo que tanta proteção havia feito ao invés de bem, mal à mulher, tentou ainda ajudá-la a lidar com as forças da natureza, mas era tarde demais e logo depois, a jardineira também morreu.

A flor agora estava totalmente exposta às forças do vento, da chuva, da seca, das noites frias; a mulher se separou, atrasou as contas, ficou só e teve lidar sozinha com seus filhos, com a busca pelo amor, com o sustento da família, com a vida, com o tempo.

Sem ter aprendido a lidar com cada uma dessas coisas pelo excesso de zelo de seus pais, a mulher foi ficando cada vez com mais medo e se escondeu o máximo que pode da chuva e do frio em um canto escuro e aparentemente protegido.

A mulher não saía de lá pra nada e mesmo assim foi encontrada por uma tempestade que a deixou ainda mais amedrontada e a fez esconder-se ainda mais na sombra escura, onde nem as água da chuva pudessem banhá-la mais.

De tanto medo a flor não mais saía do escuro e sua raízes foram se aprofundando no solo. Não mais sorria a flor com as vinda dos pássaros, porque eles não gostavam se sua cor escurecida pela sombra. Nem sequer se alimentava direito a flor, se contentava com o insumo escuro que conseguia nas sombras. Não mais se mexia a flor, mexer-se poderia chamar a atenção do desconhecido e o desconhecido a matava de medo.

O pó começou a cobrí-la, o musgo começou a brotar em si. O que restava de seu próprio jardim foi totalmente esquecido, sua aparência fora totalmente esquecida.

Totalmente engessada no medo da dor, ela pouco a pouco, dia-a-dia, passo-a-passo foi parando, parando, parando... até que parou de vez, a mulher, antes flor, virou pedra.'

É isso, amigos. Cada passo que damos ou não para a entrega para o tempo ou para a liberdade, é todo de nossa e somente nossa total responsabilidade.