domingo, 30 de janeiro de 2011

Sobre o berro


O berro é um horror, mesmo que não seja de terror!
Rima chinfrin? Uma amiga diria que sim e que nunca gostou de rima assim! hihihi (plágio, Pâm?)

O berro é o vômito da alma.
Quando ela está inundada de dor e não a suporta mais, a expulsa em um estridente e animalesco berro.

O berro não pede passagem, simplesmente escapa e vai colidindo e derrubando tudo e todos que encontra pela frente, pelo lado e por trás.

Desestabiliza ao berrador e ao ouvinte.

Se para o berrador às vezes é libertação, para o ouvinte é um acorde doloroso do veneno aprisionado, mas que vem envenenar.

Um berro ou outro assim, incontrolável, até passa um certo respeito por sua pessoa, mas berradores compulsivos são odiados, pois ninguém suporta essa bomba atômica da voz constantemente, porque o berro contamina de desespero e não há ser vivente imune a ele e, uma vez contaminado, será travada uma guerra desenfreada dos mesmos.

E nesse sentido, como instrumento de guerra, o berro não pode e não deve ser empunhado todo o tempo porque dilacera tudo e todos com sua dor de alma.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sobre o encontro de corpos e de almas


Só o romance de poucos-selecionados-evoluídos casais pode ser baseado apenas no amor e na afinidade. A maioria de nós, meros mortais, necessita, e posso dizer até que gosta, de certas dificuldades em seus relacionamentos para meio que dar "movimento" à vida.

Como exemplo dessas dificuldades posso citar, entre tantos outros, gênio difícil, ciúme, grosseria, mal humor, infidelidade, a boa e velha chatice sem motivo e tantas "características exclusivas de caráter" em nosso companheiro assim como em nós mesmos.

Necessitamos de acreditar que podemos mudar o outro e/ou que somos capazes de mudar por amor e/ou por influência de nosso cúmplice nessa missão.

Depois de algum tempo de convivência, ou desistimos de nosso intento, ou nos frustramos, ou ainda nos conformamos que somos o que somos e que o outro é o que é. Há também os que passam a vida enganando-se.

Caso afinal decidamos que a única saída é desistir de quem antes fora nosso escolhido e decidamos investir nossas forças novamente neste que chamarei de "tango do amor", começaremos esta dança de expectativas e aprendizados do início, levando ou não a bagagem e o aprendizado de nosso experiência anterior.

Se tivermos tido a sorte de evoluir com nosso aprendizado anterior e/ou passado para o afortunado grupo a ser primeiramente citado neste texto (o qual acredito ser capaz de entender a diferença entre amar e aprisionar, entre amar e esperar ser amado de forma clonada a sua), teremos nosso relacionamento sustentado apenas pelo mais simples e puro amor.

Eu, sinceramente, ouço muito falar sobre esse amor sublime e desapegado, mas definitivamente ouço muito mais sobre ele do que o vejo.

Mas assim como há pessoas que acreditam em fadas, doentes e papai noel, eu creio que ele de fato exista e entendo que ele começa com a predisposição ao SIM, mas uma coisa é fato, não há alma gêmea e cara metade que sobrevivam a anulação de individualidade seja nossa ou de nosso parceiro.

Os corpos conseguem se encontrar muito mais facilmente do que as almas e é muito lindo e mágico acreditar que algo sublime opera para que este encontro aconteça, mas a verdade irrefutável é que encontro de almas pode ser construído.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Minhas avós II



Meu coração se enternece e minha alma se infla de emoção quando a falar sobre esse assunto.

Fui criada com minha avó materna, Zoraide e foi com ela que aprendi grandes lições que carrego, carregarei por toda minha vida e que espero passar para meus filhos.

Baixinha, gordinha, com cabelos curtos e braquinhos e sempre com seus vestidos de jérsei quando passou a fazer parte da minha vida, ou eu da sua, mas havia sido uma linda moça de cabelos escuros que se casara com meu avó com a idade de quinze anos e que conta-se em minha família, era necessário ele bater corda para que ela pulasse, diante de sua pouca idade.

Minha avó era uma mulher cheia de talentos ao que em minha opinião se destacava o talento para a costura e o empreendedorismo. Na costura ela fazia moldes, montava e costurava seus vestidos peça por peça, sob medida. Se fosse hoje em dia seria considerada costureira de alta costura e provavelmente ganharia rios de dindin. Sobre o empreendorismo, a danada adorava uma construção, uma reforma e inclusive foi uma dessas obras que axauriu suas últimas forças nesta vida. Imaginem uma tampinha daquelas mandando e desmandado em pedreiros e tocando uma obra pra frente... muito além de seu tempo... ela havia nascido em 1917.

A respeito de sua idade, me lembro de olhar seu RG e de lá constar que ela havia nascido em 1916 e em uma cidade do interior de São Paulo, ao que ela rapidamente dizia ser um registro falso que fora necessário ser feito para que ela pudesse casar!

Minha avó não parava, nunca parou e era uma mulher MUITO forte. O que hoje em dia me surpreende ao lembrá-la é que ela havia perdido duas filhas e não consigo crer que pessoas que carregam essa dor ainda consigam levar suas vidas até o final, mas foi o que ela fez. Não participei dos sete anos em que ela ficou de luto, ou seja, vestindo apenas preto da cabeça aos pés pela morte de uma de minhas tias, até que um sonho a despertou e a libertar, mas tenho certeza que foi definitivamente um dark moment - minha mãe o viveu e colheu seus frutos - mas a Dona Zoraide que eu conheci era uma mulher alegre, decidida, sistemática, mas sem dúvida os braços fortes que sustentavam nossa família. Nunca a vi chorar.

Ela adorava animais e principalmente micro-cães!

Brigávamos tanto! Ela nos chamava de mal-criadas o tempo inteiro, a mim e a minha irmã, mas como não ter conflitos com as pessoas que nos são mais próximas, e claro, mais queridas. Era ela quem nos defendia quando brigávamos com minha mãe (rs) e que sempre brincava que nos queria de "papel passado", foi ela quem decidiu que eu devia morar no exterior para aprender inglês (e que foi comigo!), ela quem me deu meu primeiro carro por ter pena do meu esforço para estudar do outro lado da cidade, era ela quem fazia as vias de mãe muitas vezes a nos defender e ajudar nas coisas da vida e quantas e quantas vezes ela me ajudou a fazer contas e escrever as palavras certas tendo estudado apenas até a quarta série...

Uma vez uma amiga minha foi a minha casa e perguntou de onde vinha uma canção que ouvíamos... era minha avó cantando pelo quintal! Ela cantava tão lindamente e tanto que para mim aquilo era deveras normal que sequer prestava mais atenção, que pena!

Todas as noites nós deitávamos em seu colo, as vezes uma de cada lado, para que ela nos "coçasse" ou ainda para que as agulhas do tricô que ela fazia toda santa noite, ficasse levemente batendo em nossas cabeças ou ainda que ela fizesse seu cafuné sem igual e "catasse piolhinho" em nossas cabeças!

Ainda hoje nos momentos difíceis é a ela que elevo meus pensamentos buscando por força e orientação. Vivemos tão intensamente nossa relação e a marca desses vinte anos, que para mim foram poucos, estão vivos e latentes dentro de mim.



Minha avó Zoraide era uma guerreira, um exemplo, uma fortaleza de amor, uma artista, era mãe, avó e bisavó, mas mais que tudo um ser humano exemplar que ainda vive no meu coração e alma.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Por que dizemos parabéns nos aniversários


Dizemos parabéns sempre no intuito de congratular a pessoa por alguma coisa que ela tenha alcançado, não é? Mas não é no sentido de ela ter realizado algum feito, ou por ter mérito em alguma coisa?!

Parabéns, vc recebeu uma promoção! Vc trabalhou muito e subiu de cargo.

Parabéns, vc trocou de carro! Vc trabalhou muito, subiu de cargo e agora tem grana pra comprar um carro melhor.

Parabéns, pelo seu apartamento! Vc trabalhou muito, vendeu o carro e comprou o apê.

Parabéns por seu casamento! Já que tomou essa decisão, ainda bem que tem o apê!

Pois bem, mas voltando aos aniversários, a gente meio que não controla fazer ou não aniversários, então é mérito nosso ter cumprido mais um ano ou será que é mais mérito da vida, da sorte ou do Lord por permitir-nos completar mais doze meses de vida!

Ou será que em nossa concepção dizemos parabéns tipo, muito bem, cumpriu mais um ano, passou pra próxima fase do videogame da sua vida?!

Quando me dizem parabéns por meu aniversário me pego a refletir o que foi que eu realmente fiz pra receber aquela palavrinha simpática e toda cheia de entusiasmo: vivi minha idade anterior bem, dei tudo de mim, respeitei ao próximo, amei a mim mesma, trabalhei o suficiente, fui uma boa menina, salvei um animal, fiz alguém feliz ein, ein, ein, Nathalie???????

Vou mais uma vez aceitar todos os parabéns de todo coração, mas podem também mandar um: menina, nessa sua idade nova, seja mais assim e menos assado, que vc consiga mais isso e mas cuidado com aquilo e não esqueçam de dizer Feliz Nova Idade e Feliz Ano Novo, pois é tudo isso e mais um tanto que desejamos do fundo da alma quando dizemos parabéns em aniversários!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Momento epifânico

Será que você já teve aquele momento meio que epifânico em que parece que você entendeu exatamente tudo sobre algo realmente complicadíssimo, ou mesmo sem explicação ou com explicações tão diversas que só torna praticamente impossível seu entendimento completo?

Momento em que cada peça nova e aquelas adormecidas nas gavetas da sua memória se encaixam perfeitamente e que essa ligação acontece como com aquelas peças de dominós que vão caindo e encostando nas outras e que daí, a mais complicada questão, aquela para qual o seres vivem para achar sua resposta está pronta, viva, perfeita, brilhante em sua mente e que daí você pensa putz, era isso o tempo todo! e o mundo se abre e sorri seu sorriso mais sincero pra você mas...

não mais que de repente, em menos de um ínfimo fragmento de segundo em que você se pega comemorando a descoberta, vangloriando-se de sua genialidade, de sua predestinação...

tudo tudo tudo de mais glorioso e que iria mudar sua vida para sempre simplesmente

SOME.

Meu, eu já tive vários momentos assim and all of them are gone just like dust in the wind e eu voltei pro exato lugar onde estava, pro início da questão!


domingo, 2 de janeiro de 2011

Água depois do doce

Há certas imposições feitas em nossas vidas as quais nunca paramos para pensar e questionar qual é realmente o sentido delas e mesmo assim a assumimos como verdade e as carregamos durante a vida.

Um exemplo claro disso, ao menos em minha vida, era que minha mãe sempre reclamava quando eu comia um doce e logo depois (claro!) queria beber água. Toda santa vez que ela me via fazendo isso ela perguntava se eu 'JÁ' ia beber água.

Isso meio que ficou dentro de mim e mesmo nunca tendo perguntado what the hell was the problem with that, eu simplesmente não obedecia meu corpo e sim a imposição impensada, ou não refletida dela!rs

Levou tempo, mas hoje em dia procuro pensar um pouco mais sobre afirmações e certezas que levo comigo, bem como com as novas "certezas incontestáveis" que vão aparecendo por meu caminho.

Vamos lutar contra nossa tendência a conformidade - é só usar as palavrinhas por e que!!!




Velhinhas fugitivas


É incrível como um dia aparentemente comum pode se transformar em uma bela lição de vida.

Era um lindo domingo chuvoso em Ribs (chuva aqui é muito bem vinda para aplacar o calor infernal), quando fui convidada por uma amiga querida para um churrasquinho em sua casa. Comidinha gostosa vai comidinhas gostosas vêem, veio também o convite repentino de acompanhar a família a visitar o avô do esposo dessa minha amiguxa que completava 90 anos e que mora em uma casa de repouso.

Fui, aliás, fomos, e logo de cara me surpreendi com a beleza externa da casa de repouso e com sua ótima localização, que só não foi maior do que a surpresa ao adentrar o belo, organizado e claro local.

Ainda mais surpreendente se possível fosse e era, foi a fato das duas portas de entrada estarem trancadas, o que a princípio não me causou espanto, o que me espantou foi saber o motivo pelo qual as portas tinham que ficar trancadas:

- "Há duas meninas que querem fugir!"

Uuuat? Meninas? Fugir?

E era exatamente isso. Assim que fomos colocadas para dentro do maravilhoso recinto (tão maravilho que eu gostaria de morar lá!) havia uma senhorinha esperando perto da porta e dirigiu-se à outra senhorinha, sua cúmplice gritando:

Sra. 92 - Pega a sacola!

Sra. 99 - Ein?!

Sra. 92 - Poxa vida, agora é tarde, já fecharam a porta!"

As duas velhinhas, irmãs, uma de 92 e a outra de 99 anos, idade que não era possível atribuir a elas tamanha disposição e agilidade, ficavam plantadas todos os dias na porta do asilo com três sacolinhas de supermercado que continham seus poucos pertences na esperança de que um dos bem uniformizados funcionários desse uma brecha e esquecessem a porta aberta para que elas pudessem voltar para casa, que segundo a de 92 fica na Rui Barbosa.

Acostumadas à liberdade de ir e vir e até de beber suas biritinhas pela cidade, foram enclausuradas naquela bela casa de repouso e na qual recebiam, eventualmente, a visita de uma sobrinha.

Dia após dia elas ficam de uma porta a outra em mais uma tentativa de escapatória e até pular o muro já foi cogitado pela de 92 anos, provável arquiteta das idéias de fuga:

Sra. 92 - Eu pulo o muro, não é muito alto, e você joga as sacolas!

Sra. 99- Ein?!

Mesmo com todo o conforto e dignidade que aquela bela casa de repouso oferecia, além de assistência a um carinho "emprestado" de seus funcionários, aquelas duas vovózinhas não se conformam de terem sua liberdade usurpada e o mais impressionante, não desistem de lutar pelo que meio até que até "caducamente" acreditam.

Todas as noites as amáveis enfermeiras levam suas sacolinhas de volta paro quarto delas e as desfazem, para na manhã seguinte, depois de dormirem abraçadas e, em minha imaginação traçarem seus planos malucos como Pink e Cérebro, ou ainda os irmãos Bloom (Os vigaristas), elas voltarem a empacotar tudo novamente e mais uma vez tentarem voltar para o que elas ainda consideram seu lar.