domingo, 23 de janeiro de 2011

Minhas avós II



Meu coração se enternece e minha alma se infla de emoção quando a falar sobre esse assunto.

Fui criada com minha avó materna, Zoraide e foi com ela que aprendi grandes lições que carrego, carregarei por toda minha vida e que espero passar para meus filhos.

Baixinha, gordinha, com cabelos curtos e braquinhos e sempre com seus vestidos de jérsei quando passou a fazer parte da minha vida, ou eu da sua, mas havia sido uma linda moça de cabelos escuros que se casara com meu avó com a idade de quinze anos e que conta-se em minha família, era necessário ele bater corda para que ela pulasse, diante de sua pouca idade.

Minha avó era uma mulher cheia de talentos ao que em minha opinião se destacava o talento para a costura e o empreendedorismo. Na costura ela fazia moldes, montava e costurava seus vestidos peça por peça, sob medida. Se fosse hoje em dia seria considerada costureira de alta costura e provavelmente ganharia rios de dindin. Sobre o empreendorismo, a danada adorava uma construção, uma reforma e inclusive foi uma dessas obras que axauriu suas últimas forças nesta vida. Imaginem uma tampinha daquelas mandando e desmandado em pedreiros e tocando uma obra pra frente... muito além de seu tempo... ela havia nascido em 1917.

A respeito de sua idade, me lembro de olhar seu RG e de lá constar que ela havia nascido em 1916 e em uma cidade do interior de São Paulo, ao que ela rapidamente dizia ser um registro falso que fora necessário ser feito para que ela pudesse casar!

Minha avó não parava, nunca parou e era uma mulher MUITO forte. O que hoje em dia me surpreende ao lembrá-la é que ela havia perdido duas filhas e não consigo crer que pessoas que carregam essa dor ainda consigam levar suas vidas até o final, mas foi o que ela fez. Não participei dos sete anos em que ela ficou de luto, ou seja, vestindo apenas preto da cabeça aos pés pela morte de uma de minhas tias, até que um sonho a despertou e a libertar, mas tenho certeza que foi definitivamente um dark moment - minha mãe o viveu e colheu seus frutos - mas a Dona Zoraide que eu conheci era uma mulher alegre, decidida, sistemática, mas sem dúvida os braços fortes que sustentavam nossa família. Nunca a vi chorar.

Ela adorava animais e principalmente micro-cães!

Brigávamos tanto! Ela nos chamava de mal-criadas o tempo inteiro, a mim e a minha irmã, mas como não ter conflitos com as pessoas que nos são mais próximas, e claro, mais queridas. Era ela quem nos defendia quando brigávamos com minha mãe (rs) e que sempre brincava que nos queria de "papel passado", foi ela quem decidiu que eu devia morar no exterior para aprender inglês (e que foi comigo!), ela quem me deu meu primeiro carro por ter pena do meu esforço para estudar do outro lado da cidade, era ela quem fazia as vias de mãe muitas vezes a nos defender e ajudar nas coisas da vida e quantas e quantas vezes ela me ajudou a fazer contas e escrever as palavras certas tendo estudado apenas até a quarta série...

Uma vez uma amiga minha foi a minha casa e perguntou de onde vinha uma canção que ouvíamos... era minha avó cantando pelo quintal! Ela cantava tão lindamente e tanto que para mim aquilo era deveras normal que sequer prestava mais atenção, que pena!

Todas as noites nós deitávamos em seu colo, as vezes uma de cada lado, para que ela nos "coçasse" ou ainda para que as agulhas do tricô que ela fazia toda santa noite, ficasse levemente batendo em nossas cabeças ou ainda que ela fizesse seu cafuné sem igual e "catasse piolhinho" em nossas cabeças!

Ainda hoje nos momentos difíceis é a ela que elevo meus pensamentos buscando por força e orientação. Vivemos tão intensamente nossa relação e a marca desses vinte anos, que para mim foram poucos, estão vivos e latentes dentro de mim.



Minha avó Zoraide era uma guerreira, um exemplo, uma fortaleza de amor, uma artista, era mãe, avó e bisavó, mas mais que tudo um ser humano exemplar que ainda vive no meu coração e alma.


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